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. A Estranha do Espelho .

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Você quis me conhecer, saber de verdade quem sou e eu te apresentei parte de mim em doses fracionadas do meu ser vibrante, para que o muito que eu sou não assustasse você. Eu me mostrei de forma incompleta, com medo de que você talvez pensasse que eu era demais pra caber no seu mundo. Com isso, fui negando cada dia mais o meu eu, me sentindo sempre pequena, subtraindo as minhas exatidões, me diminuindo perante você só pra não te perder. Isso hoje pra mim é estranho, eu me tornei uma estranha perante mim. Se eu não fosse eu, me chamaria de maluca. Hoje, analisando o meu passado, tento mirar um futuro incerto porque não sei bem quem eu ainda sou e o que restou de mim aqui. Descobri que eu já não sei e não entendo mais nada a meu respeito. Não sorrio como antes, e não sou tão sociável. Os amigos que mantive, são os poucos que ainda me agüentam e que suportam minha presença irrelevante. No espelho, uma estranha bem mais velha do que eu, olha-me profundamente tentando decifrar-me. Essa estranha que vive no espelho sorri intensamente achando fácil a possibilidade de eu me reinventar, de novo. Ah, se ela soubesse. Se ela soubesse o que é ser eu, ela não se mostraria desse jeito, esse jeito que possivelmente eu seria se não tivesse esquecido de ser eu de verdade, por inteira, sem metades.
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- Jenny Guimarães -

Um comentário:

  1. Também ja não me reconheço mais, que nem disse uma autora uma vez: " em qual espelho estará perdida a minha face? "

    lindo o post amr =)

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