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. Passageira .

     Não sei nada dessa vida e do lugar onde estou. Sempre em movimento, chego, logo me vou. Sempre de passagem, com muito futuro nos olhos e uma força incrível nos pés. Estou sempre indo porque nunca sei se já cheguei. Não me instalo, não me adapto, não permaneço, estou sempre por acaso. Se não me viu, pode deixar que eu te acho. Não me perco porque não pertenço a lugar algum. Prefiro que seja assim, sem a obrigação de ter pra onde voltar, apenas ir. Possuir asas causa emoções maiores que criar raízes. Tudo tem valido a pena até o exato instante. A vida vai acontecendo pelo caminho a cada manhã. Não faço roteiros, não crio trajetos. Viver tem me consumido muito tempo. Dizem por aí que eu ando meio perdida. Mas só se perde quem sabe pra onde ir, e não está indo pra lá. O que importa mesmo é a alegria de cada amanhecer, porque meu destino é o caminho e não a chegada. Por isso sempre me acho. 

     Me encontro em cada esquina, cada vírgula de textos sem sentidos. Conheço cada canto desse quarto, e nele eu viajo. E não há limites pra quem se permite viver intensamente. Pertenço aos momentos inesquecíveis e às idéias ditas loucas nesse mundo absurdo. Estou no rascunho da última folha do caderno, e nas entrelinhas do dia a dia. Se viro a página é porque cansei de contar a mesma história. Quero estórias novas, com inícios brilhantes e que quando acaberem, cheguem realmente ao fim, porque o passado só é lindo porque já foi. Viro a página, porque preciso continuar a viver em outro lugar, mas deixo a ponta dobrada, marcando que por ali passou um emaranhado de sentimentos que raramente tem tradução e porque por ali deixei minha alma livre na emoção.